segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Aderi ao mundo virtual

Hoje é um dia particularmente importante dedicado à virtualidade. Este fim de semana passado foi reservado quase exclusivamente às compras pessoais de vestuário, aproveitando a época de saldos, nos locais mais apropriados às ofertas tendo em consideração o factor económico. Desloquei-me ao Campera – Carregado e Freeport – Alcochete e não tenho registo memorial de ter comprado tantas peças de roupa num só dia (um blusão, um polar, um casaco, dois pares de calças de ganga e um blaser). Isto por si só já é digno de registo.
No entanto o que vos quero transmitir verdadeiramente, e associado ao mundo do virtualismo, é o facto de estar pela primeira vez a escrever estas palavras no meu Blog pessoal, na minha própria casa (que está muito quentinha), no meu próprio escritório, no meu próprio computador. É verdade, este fim-de-semana aderi à Cabovisão e tenho um fantástico serviço (assim espero) de TV e Internet. Ultimamente tenho intensificado a minha presença neste mundo virtual onde não deixamos de aprender uns com os outros, conhecer novas pessoas, trocar ideias e experiências de vida, permitir que as novas tecnologias nos proporcionem facilidades de comunicação e assim melhorias de rendimento quer a nível profissional assim como a nível pessoal. Esta é a vertente positiva que a Internet associada ao virtualismo, que por vezes nos permite concretizar o realismo, tem para nos oferecer, no entanto, como em tudo na vida existe o lado menos bom, como é o exemplo da dependência, da criação de ilusões, do excesso de tempo investido preterindo a companhia de amigos e familiares entre outras coisas boas que o mundo e a vida nos tem para nos oferecer. Devemos ter em consciência que tudo o que é em excesso causa dissabores, assim sendo é preponderante conseguirmos dosear e gerir o tempo que despendemos ligados ao virtualismo, quer em termos profissionais quer em termos pessoais.

Deixo-vos agora uma história, para vossa reflexão, sobre as diferentes visões da virtualidade, que quer queiramos quer não estão bem presentes no nosso mundo real e que muitas vezes não queremos acreditar nelas.

O Mundo Virtual

Entrei apressado e com muita fome no restaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, porque queria aproveitar os poucos minutos que dispunha naquele dia, para comer e acertar alguns bugs de programação num sistema que estava a desenvolver, além de planear a minha viagem de férias, coisa que há tempos que não sei o que são. Pedi um filete de salmão com alcaparras em manteiga, uma salada e um sumo de laranja, afinal de contas fome é fome, mas regime é regime não é? Abri o meu portátil e apanhei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:
- Senhor, não tem umas moedinhas?
- Não tenho, menino.
- Só uma moedinha para comprar um pão.
- Está bem, eu compro um.
Para variar, a minha caixa de entrada está cheia de e-mail.Fico distraído a ver poesias, as formatações lindas, rindo com as piadas malucas.Ah! Essa música leva-me até Londres e às boas lembranças de tempos áureos.
- Senhor, peça para colocar margarina e queijo.
Percebo nessa altura que o menino tinha ficado ali.
- Ok. Vou pedir, mas depois deixas-me trabalhar, estou muito ocupado, está bem? Chega a minha refeição e com ela o meu mal-estar. Faço o pedido do menino, e o empregado pergunta-me se quero que mande o menino ir embora. O peso na consciência, impedem-me de o dizer.Digo que está tudo bem. Deixe-o ficar. Que traga o pão e, mais uma refeição decente para ele.
Então sentou-se à minha frente e perguntou:
- Senhor o que está fazer?
- Estou a ler uns e-mail.
- O que são e-mail?
- São mensagens electrónicas mandadas por pessoas via Internet (sabia que ele não ia entender nada, mas, a título de livrar-me de questionários desses):
- É como se fosse uma carta, só que via Internet.
- Senhor você tem Internet?
- Tenho sim, essencial no mundo de hoje.
- O que é Internet?
- É um local no computador, onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem de tudo no mundo virtual.
- E o que é virtual?
Resolvo dar uma explicação simplificada, sabendo com certeza que ele pouco vai entender e deixar-me-ia almoçar, sem culpas.
- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos tocar, apanhar, pegar... é lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer.Criamos as nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse.
- Que bom isso. Gostei!
Menino, entendeste o significado da palavra virtual?
- Sim, também vivo neste mundo virtual.
- Tens computador?!
– Exclamo eu!!!
- Não, mas o meu mundo também é vivido dessa maneira...Virtual.
-A minha mãe fica todo dia fora, chega muito tarde, quase não a vejo, enquanto eu fico a cuidar do meu irmão pequeno que vive a chorar de fome e eu dou-lhe água para ele pensar que é sopa, a minha irmã mais velha sai todo dia também, diz que vai vender o corpo, mas não entendo, porque ela volta sempre com o corpo, o meu pai está na cadeia há muito tempo, mas imagino sempre a nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos de natal e eu a estudar na escola para vir a ser um médico um dia.
-Isto é virtual não é senhor???
-Fechei o portátil, mas não fui a tempo de impedir que as lágrimas caíssem sobre o teclado
-Esperei que o menino acabasse de literalmente "devorar" o prato dele, paguei, e dei-lhe o troco, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que já recebi na vida e com um "Brigado senhor, você é muito simpático!".
-Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel nos rodeia de verdade e fazemos de conta que não percebemos!

2 comentários:

Anónimo disse...

Lindo, de facto o mundo virtual tem algo de mágico, acontecem coisas mágicas...Por vezes favoreçe a proximidade e "abertura" entre os seres... Mas de facto há q nunca esquecer que existe um mundo lá fora!!!Porque nada em tempo algum substituirá um olhar, um toque, um abraço intenso...
Beijos doces...

mf disse...

parabens